Caravanas
Literárias
Caravanas um dia partiram
levantando poeira na estrada. Caravelas e navios deixaram rastros sobre a agua.
Um rastro de fumaça ou vapores d’água, hoje ficam pelas estradas onde as
caravanas passam, as novas caravanas motorizadas, embarcadas em vans, com suas
vans picapes e filosofias anotadas. Um motorista segue como cocheiro,
transporta passageiros em motores à cavalos (HP).
Caravanas literárias partem
rumo ao desconhecido. Um ambiente literário inóspito a ser desbravado. Sem a
certeza de espaços e seres que vão encontrar, e vão conhecer em outras paragens,
depois de apreciar algumas paisagens. Encontrar seres alfabetizados, falantes e
amistosos é o seu primeiro objetivo. Seres com que possam negociar suas
mercadorias. Seres que podem estar despidos daquilo que a caravana leva
consigo, o conhecimento através da literatura, seus pontos de vistas, a partir
de que cada desbravador artista literário, escreveu e construiu em um livro.
Levam um conhecimento e
esperam uma contrapartida. Partem em busca de novas pedras e novos metais;
novas preciosidades e novas especiarias que contribuam com seus conhecimentos e
artes até aqui adquiridos, e registrados em livros. Buscam um reconhecimento. Vão
em busca de novos elementos que possam contribuir com seus pensamentos para
criar novos conhecimentos. Partem em busca de novos povos que sabem existir no
final da estrada, seres acampados em escolas, com muito ou pouco conhecimento,
a partir de suas ideias e pontos de vista. Não existe uma certeza do que podem
encontrar no final das estradas. Talvez nenhum conhecimento daquilo que a
caravana leva em suas bagagens bibliográficas. Será necessário primeiro
cativa-los e catequiza-los com seus deuses e personagens anotados em livros.
Identificam escolas e cidades
com um povo reunido, que podem ter ou não ter arquivos de conhecimentos, que os
caravaneiros chamam de bibliotecas. Um conjunto de livros enfileirados sobre
prateleiras, ordenados e catalogados para facilitar buscas e acessos com as
suas referências. Arquivos que podem registrar a própria história local ou
histórias de outros lugares. Por vezes procuram o pajé dos livros e não acham,
e o cacique justifica a sua ausência: por falta de recursos, falta de
estrutura, ou falta de paciência.
Os indígenas brasileiros não
tinham as denominadas bibliotecas, mas tinham estratégias de perpetuar seus
conhecimentos e sua cultura. A cultura guardada, o conjunto de conhecimentos, estaria
representada em seus corpos e utensílios, armas e equipamentos. Pinturas, cores
e formas, que eram constantemente lidos e revisados em danças e datas festivas.
O descobridor não entendeu, e julgou-os como possuidores de uma linguagem oral,
e sem escrita. Resumindo: não tinham um conhecimento, já que não perpetuavam
suas vitorias e conquistas.
Caravaneiros literários buscam
levar suas práticas e conhecimentos. Tem a missão de catequisar alunos e
professores a exercerem sua cultura, vinda de outras plagas, na pratica da
leitura como um conhecimento. Tal como fizeram descobridores impondo sua
religião e seu Deus, sem ensinar como rezar, eram os eternos não civilizados e
pecadores. Em tempos de internet, ainda é possível encontrar alguns cidadãos
que não estão antenados com a estratégia da literatura, um modo rudimentar de transmissão
do conhecimento, inventado a alguns séculos passados. Parecem ser seres
bastante atrasados, em suas culturas, sem uma literatura.
Descobridores distribuíram
espelhos como presentes e souvenir, aos indígenas que encontraram, hoje já não
é necessário distribuir pedaços de espelhos quebrados. Muitos já possuem um
pequeno aparelho nas mãos que servem tal como um espelho, onde podem congelar
um momento, e ver outros seres, do outro lado do mundo.
Caravaneiros levam suas práticas
e realizam um ritual, com um povo reunido, a missa pascal. Fazem uma primeira
reunião tal como um dia desembarcaram, e realizaram uma primeira missa. Com um
evento ritualístico e documentado, deixam seus conhecimentos e seus livros.
Deixam uma atitude com um intensão, de que podem voltar e encontrar outros
seres mais evoluídos, seres que leram os seus livros. E tal como os índios,
muitos não estarão preparados para sua chegada, mas são seres amigos e receptivos.
Não existindo uma certeza do
que encontrar na estrada, torna-se necessário levar outros equipamentos, além de
bussola e astrolábio; e outros pensamentos de novas tecnologias, que possam ser
aplicados ou utilizados. O ser que viaja não é o mesmo ser que volta, tal como
aquele ser que está lá longe em outro lugar, e diariamente se banha com outras
aguas, que percorreram outras paragens.
Em outras épocas comerciantes
investiam nas viagens de descobrimentos, com a intenção de obter mercadorias. Hoje
os comerciantes podem investir em caravanas literárias, obtendo outras
regalias, como a renúncia de impostos, com seus nomes expostos nas viagens formadoras
de novos leitores e consumidores, que podem consumir seus serviços e mercadorias.
E até estabelecer suas benfeitorias, quem sabe um café literário, substituindo
a companhia do chá das índias.
30/09/15
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